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| foto divulgação |
Criei a expectativa desse filme desde as primeiras divulgações. Fui com as mesmas ao cinema. Para minha surpresa vejo um entorno de narrativa muito corriqueiro. Os mesmos chavões que massacram quem trabalha com a Classe Média para além do horário comercial.
O filme fala muito em mim. Jéssica fala muito em mim.
Como o filho dos patrões diz: segura demais de si!
Ser mulher. Jovem. Bonita. Inteligente pode até ser aceitável, mas desejar e conseguir chegar em uma universidade pública e em um curso tido como da "elite", já é abuso demais!!
A inveja impera naqueles que acreditam que, para os filhos da Classe média tudo deve ser garantido. Para o filho do pobre... ensino público até o médio, já está de bom tamanho!
Nunca confiei em quem tenta desmerecer toda a capacidade e inteligencia das pessoas.
Sempre penso em fazer um projeto não apenas com as empregadas domésticas que não puderam construir e viver a sua vida. Mas de tantos porteiros e suas famílias que foram assediados, diariamente, em sua rotina de convivência com aqueles que dizem ter o direito. Como bons senhores de engenho acreditavam ser donos da vida das pessoas apenas porque, segundo eles, "davam" a moradia para o porteiro.
É um simbólico reforçado diariamente na convivência com essas pessoas. Ainda é muito recente a percepção da condição de sujeito de direito para esses profissionais. Ainda pouco ou nada compreendem sobre o quão importante é sair do seu local de trabalho e ir para a sua casa.
Jéssica tem a força para despertar em sua mãe a vontade em ver uma outra realidade. A mãe, por sua vez, sofre por não compreender o comportamento da filha, que já não é sua filha desde que a deixou no nordeste.
Não existe família a distância. Ao mesmo tempo não existe família com as pessoas com as quais você trabalha e te tratam como funcionária.
Os diálogos e as demarcações espaciais deixam muito bem evidenciado essa divisão supostamente invisível, que existente na relação entre a família e a empregada.
O "quase da família" é a expressão que desnuda toda a hipocrisia da convivência.
Tudo já naturalizado e por isto mesmo, não questionado, visto ou ouvido.
Jéssica já chega não entendendo essa arrumação. Não compreende porque a mãe não tem a sua casa. Não tem seus móveis. O quartinho dos fundos para Jéssica fica simbolicamente apresentado. Observando a planta da casa tenta mostrar para mãe a imensidão da casa e onde está localizado o seu quartinho. A enfase que Jéssica faz ao ler a planta da casa, mostrando os lugares até dizer que no espaço inferior estava localizado o quarto da mãe. Diálogos muito bem construídos. Chantagens emocionais muito bem colocadas. Envolvimento das personagens. Dos sabores, saberes, cheiros e desejos. Tudo bem descrito e percebido durante a narrativa.
Nesta construção toda narrada sobre o quartinho dos fundos... me lembrou um trecho de Clarice Lispector
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| A Paixão Segundo G. H. |
Coisas que, para quem quer ser muito mais do que apenas um esteriótipo de jovem inteligente, mulher e profissional vai ter que aprender desde cedo como se desvincilhar dessas armadilhas dos revolucionários de Classe Média.
O enredo, nesse contexto, escorregou na personalidade da Jéssica e neste momento, caiu por terra o que vinha sendo muito bem construído ao longo do filme. Nestes dois momentos o filme reforça o já posto pelo senso comum. Perda lastimável. O que evidenciou o lugar das pessoas que escreveram a narrativa.
Jéssica quase me representa mas, não admito que coloquem a mulher jovem, pobre como usuária dessa "modernidade" da maconha ou da cachaça, além também do já clássico: ter filho precocemente.
JF.


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